terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Teologia Bíblica / Faculdade Presbiteriana Fatesul

   
      Neste primeiro semestre de 2013 iremos estudar a disciplina Teologia Bíblica na Faculdade Presbiteriana Fatesul, localizada no bairro Tarumã, Igreja Presbiteriana.
     É possível participar como aluno ouvinte e também aluno de somente uma ou mais disciplinas, na busca de conhecimento para mais perto de Deus estar e mais produtivo na sociedade atuar.
     As aulas iniciam dia 25 de fevereiro e será possível acessar o material de estudo neste blog. Bom estudo!
     Abraços, prof Ivan Ruppell Jr.


     TEOLOGIA BÍBLICA - AULA 1 - Material de apoio

     INTRODUÇÃO
     "Por "teologia bíblica", entendo aquele ramo da teologia cuja preocupação é estudar cada segmento das Escrituras individualmente, especialmente quanto ao seu lugar na história da revelação progressiva de Deus. A ênfase de tal estudo recai sobre a história e o segmento específico.
     Por "teologia sistemática", entendo aquele ramo da teologia que visa elaborar o todo e as partes da Escritura, demonstrando suas conexões lógicas (não apenas históricas), dando pleno conhecimento à história da doutrina, ao clima intelectual e às categorias e indagações contemporâneas, tendo sua base de autoridade final nas Escrituras, propriamente interpretadas. Teologia sistemática lida com a Bíblia como um produto pronto.
     Estas definições não evitam superposição: a teologia bíblica precisa ser sistemática, mesmo que focalize o lugar e o significado históricos de um segmento específico da Bíblia; e a teologia sistemática, se depender de exegese honesta, deve forçosamente depender de considerações históricas (...)
RESUMO DE ESTUDO: - Teologia Bíblica - estudar segmentos da Bíblia individualmente - acerca de seu lugar na história da revelação progressiva - ênfase: história e segmento específico.
Teologia Sistemática - organiza todos os livros da Bíblia, em suas conexões lógicas - expondo o conhecimento doutrinário - o conhecimento e entendimento intelectual do contexto histórico das doutrinas - debaixo da autoridade das Escrituras.
QUESTÃO AOS ALUNOS: "Estas definições não evitam superposição... - Qual o significado desta frase?
     Warfield oferece uma analogia que, a despeito de seus limites, vale a pena repetir:
     - O trabalho imediato da exegese pode ser comparado ao trabalho de um oficial de recrutamento: da massa de cidadãos, ele seleciona os homens que vão constituir o exército. A teologia bíblica organiza tais homens em companhias, regimentos e batalhões, dispostos em ordem de marcha e equipados para o serviço. -
     A teologia sistemática combina tais companhias e regimentos, formando um exército - um todo único e singular determinado por seu próprio princípio abrangente. Tal exército também é formado por homens, os mesmos recrutados pela exegese, mas em seu relacionamento devido aos outros homens de suas companhias e regimentos e batalhões. (...)
     (Unidade do Novo Testamento e Teologias bíblica e sistemática)
     (...) Por exemplo, se for argumentado que um autor ou livro é incoerente devido a alguma omissão, redação posterior, incorporação de fontes incompatíveis, ou qualquer coisa semelhante, é impossível desenvolver uma teologia bíblica daquele segmento das Escrituras (...) Semelhantemente, a possibilidade de se desenvolver uma teologia sistemática depende de determinar que nenhum dos livros do NT é incoerente (seja tal coerência demonstrada em categorias lógicas, históricas, funcionais ou quaisquer outras). Se houver uma incoerência intransponível, então a disciplina "teologia sistemática" pode permanecer, mas nenhuma teologia sistemática como produto final será possível (...)
     - Donald A Carson, Teologia bíblica ou Teologia sistemática, páginas 25 a 29 -
QUESTÃO AOS ALUNOS: Escreva um parágrafo acerca da coerência bíblica das teologias bíblica e sistemática e sua importância para a existência das citadas "teologias"?

     TEOLOGIA, o termo - AULA 2
     "A palavra "teologia" pode facilmente ser decomposta em duas palavras gregas: theos (Deus) e logos (palavra). Portanto, a "teologia" é discursar sobre Deus, mais ou menos  da mesma forma que a "biologia" é discursar sobre a vida (do grego: bios).
     Se existe um único Deus e se esse vem a ser o "Deus dos cristãos" (para empregar uma frase de Tertuliano, um escritor do século II), logo, daí decorre o fato de que a natureza e o escopo da teologia se encontram relativamente bem definidos: a teologia representa a reflexão a respeito do Deus a quem os cristãos louvam e adoram.
     Contudo, o cristianismo surgiu no contexto de um mundo politéista, em que a crença em muitos deuses era bastante comum. Parte da tarefa dos primeiros escritores cristãos parece ter sido distinguir o Deus dos cristãos dos outros deuses que havia no contexto religioso (...)
     Com o passar do tempo, o politeísmo veio a ser considerado como algo ultrapassado e um tanto primitivo. A suposição acerca da existência de um único Deus, em que este era considerado idêntico ao Deus dos cristãos, tornou-se tão difundida que, até o início da Idade Média na Europa, parecia algo patente, que dispensava provas ou explicações. Assim, Tomás de Aquino, ao desenvolver sua argumentação em prol da existência de Deus, não considerou necessário demonstrar que o deus, cuja existência ele provara, era o "Deus dos cristãos": afinal, que outro Deus havia? Provar a existência de Deus representava, por definição, provar a existência do Deus cristão.
     Dessa forma, a teologia era vista como a análise sistemática da natureza, dos propósitos e da ação de Deus. Em sua essência, encontrava-se a crença de que a teologia representava uma tentativa, ainda que inadequada, de falar sobre um ser divino, distinto dos seres humanos.
     Embora inicialmente o termo "teologia" significasse a "doutrina de Deus", o termo adquiriu sutilmente um novo sentido, nos séculos XII e XIII, à medida que a Universidade de Paris começou a se desenvolver. Era necessário encontrar uma designação para o estudo sistemático, de nível universitário, voltado à fé cristã.
     A expressão latina theologia, sob a influência de escritores parisienses como Pedro Abelardo e Gilberto de la Porree, passou a significar "a disciplina da ciência sagrada" que abrangia a totalidade da doutrina cristã, e não somente a doutrina de Deus.
     Um desdobramento posterior ocorreu mais recentemente. Até a época do Iluminismo, em parte como uma espécie de reação ao surgimento da sociologia e da antropologia, o foco da atenção havia se deslocado de tudo o que estivesse fora do alcance da investigação humana, como Deus, por exemplo, para voltar-se ao estudo do fenômeno da religião. Os "estudos religiosos" ou o "estudo das religiões" representam a área do conhecimento voltada à investigação de questões religiosas - como, por exemplo, as crenças ou as práticas religiosas do cristianismo ou do budismo.
     Com isso, ocorreu uma modificação no significado do conceito de teologia (...) Logo, embora a Teologia fosse certa vez tida como discurso sobre Deus, ela agora havia se tornado uma mera análise de crenças religiosas - mesmo que essas crenças não se referissem a deus algum, ou se referissem a diversos deuses, como no panteão hindu.
     Até mesmo a bem-intencionada definição de teologia do teólogo John Macquarrie, da Universidade de Oxford, é ligeiramente vulnerável nesse aspecto: "A teologia pode ser definida como o estudo que, por meio da participação e da reflexão a respeito de uma crença religiosa, busca expressar o conteúdo dessa fé por meio da linguagem mais clara e mais coerente possível."
     (...) "A teologia é a ciência da fé. É a explanação e a explicação consciente e metódica da revelação divina, recebida e compreendida pela fé." (Karl Rahner). (Alister E MCGrath - Teologia, sistemática, histórica e filosófica, páginas 175- 177)

     Este brevíssimo passeio histórico acompanhando o desenvolvimento do significado do termo "teologia", já nos prepara para o entendimento do significado da disciplina "Teologia Bíblica"; pois qualquer tema que venhamos a estudar tem  sua origem e orientação em meio aos pensamentos surgidos na história do estudo da revelação cristã. Isto é compreensível. Porém, nos cabe tanto recordar e ressaltar tal fato, quanto - importante, reconhecer quando e como na história do pensamento cristão o termo "teologia" se fez reconhecer pela expressão "teologia bíblica".
     Como explica Donald A Carson, "teologia bíblica" se entende enquanto "aquele ramo da teologia cuja preocupação é estudar cada segmento das Escrituras individualmente, especialmente quanto ao seu lugar na história da revelação progressiva de Deus." (Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática, p 26 e 27).
     Então, inicialmente, deve-se reconhecer na história do pensamento cristão quando é que o interesse pelo estudo do texto e contexto das Escrituras se expressou através do termo "Teologia"; a fim de aprofundar tal entendimento no objetivo de anotar o contexto histórico que gerou o conteúdo peculiar ao que veio ser considerado "teologia bíblica".

MATERIAL DE APOIO - Conceitos, Teologia Bíblica


“Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegetica que lida com o processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia.
Na definição dada, o termo “revelação” é tido como um substantivo que indica ação. A teologia bíblica lida com a revelação como sendo atividade divina, não o produto final dessa atividade. Sua natureza e método de procedimento terão, naturalmente, de manter estreito contato e reproduzir, até onde possível, as características do trabalho divino em si. (...)

“O nome é muito abrangente, pois, à exceção da revelação geral, supõe-se que toda teologia esteja embasada na Bíblia. (...) O fato é que a teologia bíblica, tanto quanto a teologia sistemática, faz que o material passe por uma transformação. A única diferença está baseada no princípio no qual a transformação é conduzida. No caso da teologia bíblica, o princípio é histórico; no caso da teologia sistemática, o princípio é de natureza lógica. Ambos são necessários e não há nenhuma situação em que um se ache superior ao outro.

Método da Teologia Bíblica
“O método da teologia bíblica é, predominantemente, determinado pelo princípio da progressão histórica, daí a divisão do curso da revelação em certos períodos. Qualquer que seja a tendência moderna quanto a eliminar o princípio da periodicidade da ciência histórica, permanece como certo que Deus, no desdobramento da revelação, empregou esse princípio com regularidade. Disso segue-se que os períodos não deveriam ser determinados de maneira aleatória ou segundo preferências subjetivas; mas, estritamente, de acordo com as linhas de divisão delineadas pela própria revelação. A Bíblia está, como esteve, consciente do próprio organismo; ela sente, o que não podemos dizer sempre de nós mesmos, a própria anatomia. O princípio das sucessivas Berith-realizações (aliança ou pacto-realizações), como indicando a introdução de novos períodos, tem um papel importante nisto, e deveria ser cuidadosamente observado.”

A divisão da revelação especial redentora “berith” e “diatheke”
“Isso é o que na linguagem dogmática chamamos de “o pacto da graça”, enquanto que a revelação especial pré-redentora é comumente chamada de “o pacto de obras”. Deve-se tomar cuidado para não identificar o último com o “Antigo Testamento”. O Antigo Testamento pertence ao pós-queda. Ele compõe a primeira das duas divisões do pacto da graça. O Antigo Testamento é aquele período do pacto da graça que precede a vinda do Messias; o Novo Testamento compreende aquele período do pacto da graça que segue da sua aparição e sob o qual nós ainda vivemos.”

(Teologia Bíblica, Antigo e Novo Testamentos – Geerhardus Vos, páginas 16 a 38)



   "Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegetica que lida com o processo da autorevelação  de Deus registrada na Bíblia.
   Na definição dada, o termo "revelação" é tido como um substantivo que indica ação. A teologia bíblica lida com a revelação como sendo atividade divina, não o produto final dessa atividade. Sua natureza e método de procedimento terão, naturalmente, de manter estreito contato e reproduzir, até onde possível, as características do trabalho divino em si (...)

   (...) As várias coisas designadas em sucessão pelo nome de Teologia Bíblica
   O nome foi usado, primeiramente, para designar uma coleção de textos-prova empregados no estudo da teologia sistemática. Depois, foi acolhido pelos pietistas em seu protesto contra um método hiperescolástico no tratamento da dogmática. É claro que nenhum dos dois usos fez surgir uma nova disciplina teológica distinta. Isso não aconteceu até que um novo princípio de abordagem, que posicionava a questão fora da esfera das disciplinas já existentes, foi introduzido. O primeiro a fazer isso foi J. P. Gabler no seu tratado De justo discrimine theologiae biblicae et dogmaticae. Gabler percebeu, corretamente, que a diferença específica da teologia bíblica se encontra no seu princípio histórico de abordagem (...)

Princípios Orientadores
   a) o reconhecimento do caráter infalível da revelação como essencial a todo uso legitimamente teológico do termo. Isso é essencial ao teísmo. Se Deus é pessoal e consciente, então a inferência é inevitável de que em todo seu modo de autorevelação ele apresentará uma expressão impecável de

   b) a teologia bíblica deve, igualmente, reconhecer a objetividade da base da revelação. Isso significa que comunicações reais vieram de Deus ao homem ab extra (...) A crença na ocorrência conjunta da revelação objetiva e subjetiva não é uma posição estreita e antiquada; na verdade, ela é a única visão abrangente, uma vez que tem o desejo de levar em consideração todos os fatos. A ofensa com o termo "ditado" frequentemente procede de um menosprezo de Deus e uma hipervalorização do homem. Se Deus foi condescendente em nos dar uma revelação, compete a ele e não a nós determinar a priori que formas ela assumirá. O que devemos à dignidade de Deus é que haveremos de receber sua fala com pleno valor divino.
   c) a teologia bíblica está profundamente envolvida com a questão da inspiração (...) nosso conceito da disciplina considera o assunto do ponto de vista da revelação que procede de Deus. Portanto, o fator da inspiração precisa ser reconhecido como um dos elementos de considerável importância que conferem às coisas estudadas o caráter de "verdade" garantida a nós como tal pela autoridade de Deus... O conceito de inspiração parcial é uma invenção moderna, não tendo nenhum apoio no que a Bíblia ensina sobre a própria formação... Ainda mais, temos descoberto que a revelação não está, de maneira alguma, confinada a manifestações verbais isoladas, mas ela abrange fatos... Portanto, a não ser que a historicidade desses fatos seja garantida e que isso seja de uma maneira mais confiável do que o que é feito pela mera pesquisa histórica, os fatos, com o conteúdo do ensinamento, se tornarão sujeitos a um grau de incerteza, considerando o valor da revelação com totalmente duvidoso. A confiabilidade da exatidão das revelações depende totalmente da exatidão do ambiente histórico no qual elas aparecem.

(Teologia Bíblica, Antigo e Novo Testamentos, Geerhardus Vos, edit Cult Cristã, p 20 - 25)



   TEOLOGIA BÍBLICA - AULA 3 - Material de apoio

     - A evolução da teologia como disciplina acadêmica.
     Qual a origem histórica do termo "teologia" e como se tornou em currículo acadêmico?
     Foi no período patrístico que Clemente de Alexandria distinguiu "uma teologia" cristã da mitologia pagã e igualmente Eusébio de Cesareia fez uso do termo, ambos buscando apresentar uma visão "verdadeira" de Deus a partir exclusivamente do ensino cristão.
     A partir do século XII, a teologia tornou-se disciplina acadêmica na Europa Ocidental a partir do surgimento das universidades, pois quatro faculdades eram ensinadas: humanidades, medicina, direito e teologia. A partir do ensino básico das humanidades, os estudantes se desenvolveriam a partir da escolha de uma das três "faculdades superiores". Encontramos esta realidade no século XVI quando os reformadores Lutero e Calvino estudam "humanidades" na universidade antes de se dedicarem à teologia e direito, respectivamente. Este reconhecimento acadêmico da Teologia avançou na Europa Ocidental proporcionalmente ao surgimento de novas universidades no decorrer dos séculos.
     O conteúdo de estudo da disciplina teologia, a partir das escolas das catedrais e monastérios, referia-se mais a questões práticas da fé e espiritualidade. O estudo a partir das universidades gerou um maior interesse teórico da disciplina, como na Universidade de Paris, século XIII, em que teologia designava "a discussão sistemática das crenças cristãs em geral." A obra Summa theologiae, de Tomás de Aquino, século XIII, consolidou a palavra "teologia" como referente à disciplina teórica.
     A postura de Tomás de Aquino em afirmar a teologia como disciplina teórica provocou reações de Boaventura e Alexandre pelo esquecimento do estudo prático e também de Thomas à Kempis; que declaravam haver maior interesse na reflexão do que na obediência a partir dos estudos com ênfase teórica. Lutero e Calvino igualmente se preocuparam com as questões práticas da fé a partir do estudo teológico, sendo que Calvino fundou a Academia de Genebra no propósito de orientação prática ao ministério pastoral. Escritores protestantes posteriores desenvolveram mais a reflexão teórica do que o pensamento ministerial.
     O Iluminismo do século XVIII fez o meio acadêmico questionar o valor e propósito da disciplina "teologia" no estudo das universidades. A busca da verdade deveria ser objeto da filosofia, em uma pesquisa acadêmica sem base externa à reflexão; sendo que a teologia, porém, era baseada em "artigos de fé". Kant afirmou que disciplinas como teologia, medicina e direito deveriam ocupar-se somente de questões práticas, como ética e saúde.
     F D E Schleiermacher renovou o interesse da disciplina "teologia" a partir do propósito de bem instruir o clero da igreja. Schleiermacher desenvolveu a ideia de três áreas à teologia: teologia filosófica, histórica e prática, resultando em uma visão de que o estudo da disciplina seria de valor para a sociedade; perspectiva bem aceita na Berlim do século XIV mas, perspectiva progressivamente abandonada pelo secularismo ocidental.
     A exclusão da disciplina "teologia"do meio acadêmico fez-se realidade a partir do surgimento de universidades com princípios seculares de reflexão, ocorrendo a partir da Revolução Francesa em 1789 e avançando, por exemplo, em universidades da Austrália que surgiram a partir deste pressuposto intelectual secularizado.
     Atualmente, a disciplina "teologia" existe em meio ao valor de uma sociedade pluralista, como nos EUA; em que seu estudo acadêmico se desenvolver a partir do estudo das religiões, a fim de não gerar privilégio a um determinado credo e fé. Os Seminários tornaram-se o local privilegiado de estudo da teologia cristã.
     A partir da obra: Teologia, a fragmentação e unidade da educação teológica, de Edward Farley, 1983; a disciplina acadêmica "teologia" afastou-se da busca por um "conhecimento genuíno das coisas divinas". Há uma diversidade de disciplinas que necessariamente não apresentam coerência e unidade, se desenvolvendo de forma isolada. Ainda, o que surge atualmente é a ideia de uma "arquitetura da teologia", refletindo sobre a relação entre estudos bíblicos e teologia sistemática e entre esta e a teologia pastoral.
     RESUMO - Prof Ivan S Ruppell Jr - páginas 177 a 180, Teologia sistemática, histórica e filosófica, Alister E McGrath.


   TEOLOGIA BÍBLICA - AULA 4 - Material de Apoio

   Teologia Bíblica: conceitos e considerações
    "A melhor abordagem para o entendimento da natureza da teologia bíblica e o lugar pertencente a ela no círculo das disciplinas teológicas passa por uma definição de teologia em geral. De acordo com sua etimologia, teologia é a "ciência concernente a Deus"... Como um caso frequente, a definição de teologia pode ser examinada como a "ciência da religião". Se nessa definição "religião" deve ser entendida subjetivamente como significando a soma total dos fênomenos ou experiencias religiosas no homem... Se, entretanto, religião for entendida, objetivamente, como a religião que é normal e de obrigação para o homem porque é prescrita por Deus, então outra questão deve ser levantada: por que Deus exige precisamente essa religião e não outra? Portanto, em última instância, ao lidar com religião nos encontraremos lidando com Deus.
   Da definição de teologia como ciência concernente a Deus segue-se a necessidade de que isso se baseie em revelação. Ao lidar cientificamente com objetos impessoais, nós é que damos o primeiro passo... Mas com relação a um ser pessoal e espiritual a situação é diferente. Somente à medida que tal ser escolhe se expor é que podemos conhecê-lo... O princípio envolvido foi formulado por Paulo de maneira impressionante: "Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" (1Coríntios 2.11). O conteúdo oculto da mente de Deus pode ser possuído mediante o desvendar dessa mente, feito pelo próprio Deus. Deus precisa vir até nós antes que possamos ir a ele. Mas Deus não é um ser espiritual de forma geral. Ele é um ser infinitamente exaltado acima da nossa maior concepção (...)
   Outra razão para a necessidade da revelação que preceda todo o entendimento de Deus advém do estado anormal em que o homem existe no pecado. O pecado transtornou a relação original entre Deus e o homem. Isso produziu uma separação em que anteriormente prevalecia uma comunhão perfeita. Em razão da natureza da situação, todos os passos tomados na direção de corrigir essa anormalidade partiram da soberania divina."

(Teologia Bíblica, Antigo e Novo Testamentos, Gerrhardus Vos, edit Cultura Cristã, p 13, 14)
   


   TEOLOGIA BÍBLICA - AULA 5 - Material de Apoio

  "Uma nova preocupação com o método. Reformadores como Martinho Lutero e João Calvino tiveram um interesse relativamente pequeno em relação ao método. Para eles, a teologia voltava-se, sobretudo, à explicação das Escrituras.
     Na verdade, As institutas, de João Calvino, podem ser consideradas como uma obra de "teologia bíblica", que reunia as idéias básicas das Escrituras com uma apresentação sistemática. Entretanto, nos escritos de Teodoro de Beza, o sucessor de João Calvino na direção da Academia de Genebra (uma organização que treinava pastores em toda a Europa), pode ser vista uma nova preocupação com as questões metodológicas, (...) A organização lógica do material e sua fundamentação em pressupostos assumiram uma importância extraordinária."
     (página 115)

     "Não deixa de ser interessante o fato de que Calvino na medida em que escrevia os seus comentários da Bíblia, ampliava a sua Instituição da Religião Cristã - "obra prima da teologia protestante" - como resultado do seu aprofundamento bíblico, tendo em vista também os novos questionamentos de seu tempo. Neste sentido a sua teologia foi uma obra apologética, como, na realidade, deve ser toda a teologia.
     Aliás, a sua teologia nada mais era do que um esforço por comentar as Escrituras, por isso sua obra pode ser corretamente chamada de uma "teologia bíblica", certamente escrita por um teólogo sistemático que tão bem sabia se valer dos recursos da exegese e da hermenêutica, dispondo tudo isso de forma erudita e devocional. Por isso a história dos Comentários Bíblicos de Calvino e das sucessivas edições das Institutas se confundem e se completam. A sua exegese era teologicamente orientada e a sua teologia estava amparada em uma sólida exegese bíblica."
     (Herminsten Maia Pereira da Costa - Raízes da Teologia Contemporânea - páginas 142 e 143)


     A Dignidade da Teologia Bíblica a partir da Teologia Sistemática

     "Uma vez aceita a coerência interna de cada segmento, é possível desenvolver uma teologia bíblica para cada segmento e ainda assim deixar de encontrar o consenso necessário a uma teologia sistemática. Se, contudo, uma teologia sistemática for possível, a própria teologia bíblica assume uma nova dignidade, pois uma consequência da teologia sistemática seria a certeza de que os segmentos constituintes são coerentes, desde que corretamente organizados na estrutura histórica da teologia bíblica.
     Se as definições e relacionamentos que esbocei permanecerem de pé, segue-se que a legitimidade de buscar uma teologia sistemática depende da unidade do NT. A ampla diversidade existente não pode, portanto, envolver contradição lógica ou histórica. (...)
     (Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática, Donald A Carson, p 29-30)



AULA 6 - TEOLOGIA BÍBLICA

     Uma teologia bíblica do Novo Testamento formalizou-se grandemente ao redor de reflexões, conflitos e encontros a partir do pensamento teológico protestante junto aos movimentos da Reforma, Pietismo e Iluminismo. Isto porque até meados do século 13 somente havia uma teologia dogmática, não bíblica, posto que se apoiava no propósito de bem ensinar as definições fundamentais do pensamento cristão. Estas declarações dogmáticas afirmavam o cânone essencial cristão a partir de reflexões apologéticas, sendo desenvolvido nos séculos primeiros e Idade Média enquanto exposição de doutrina eclesiástica "necessária" ao seu contexto; não enquanto exposição bíblica em sua completude.

     Especialmente na Idade Média esta exposição dogmática apoiou-se mais fortemente nas tradições eclesiásticas, pois o resguardo e testemunho da verdade cristã se fizeram reconhecer pela manutenção e proteção do pensamento cristão do cânone essencial. Enquanto os "reformadores" refletiram sobre o conteúdo do cânone dogmático eclesiástico com liberdade reflexiva desde o século 13, somente no século passado o pensamento cristão católico atuou de igual forma.

     "A Reforma não produziu a ciência bíblica protestante atual, mas deu-lhe a relevância objetiva." (pg 19). Lutero não criou uma ciência bíblica pura enquanto base de compreensão e exposição da verdade cristã, pois manteve e se baseou em tradições e símbolos de fé cristãos históricos. Porém, inverteu a perspectiva existente entre Escritura e tradição, transferindo para a Bíblia o veredito final sobre o texto verdadeiro e correto da Igreja.
     Lutero e a Reforma Protestante irão legar ao pensamento cristão a orientação básica de que a Escritura é o critério primeiro de compreensão e exposição da Verdade do Cristianismo. O princípio de interpretação orientador de tal proposta é "que a Escritura expressa o decisivo, de maneira clara, se for interpretada de acordo com a sua própria essência." (p 19) Isto ocorre quando a Escritura é interpretada pela Escritura e, quando a Escritura interpreta-se a partir de Cristo: "E nisso Cristo para ele não é uma sigla, mas o Cristo que conheceu na mensagem da justificação da carta aos Romanos e ao qual as comunidades da Reforma se confessavam magno consensu, nos Escritos Confessionais." (p 19)

     Mesmo refletindo a partir destes princípios, os reformadores primeiros e seus posteriores teólogos ortodoxos, não desenvolveram grandemente uma teologia bíblica; pois atuavam em busca de respostas concretas às indagações e necessidades de sua época. Posteriormente, os Pietistas conflitaram com a ortodoxia protestante rejeitando um nascente escolasticismo do protestantismo. Assim fizeram trazendo a Bíblia novamente ao centro da reflexão. Porém, permaneceram expondo mais uma dogmática bíblica (declarações objetivas e simplistas) do que buscando uma exposição da completude do texto bíblico.

     "Uma teologia bíblica surgiu apenas quando o princípio escriturístico da Reforma, na maioria das vezes sob modificação pietista, se chocou com o pensamento histórico do Iluminismo." (p 20) Foram padrões de interpretação iluministas que moveram o pensamento cristão a analisar os escritos bíblicos enquanto documentos históricos, de igual modo a documentos antigos outros. Mesmo que a interpretação histórica documental tenha se iniciado e desenvolvido à luz da filosofia dominante à época, o princípio de análise histórica documental gerou novo valor à função teológica.
     "... a Escritura não quer apenas transmitir uma alocução genérica de Deus, mas quer faze-lo numa determinada situação histórica. A Carta aos Romanos, p. ex., não é um tratado de caráter geral, mas foi escrita à comunidade de Roma numa determinada situação. É por isso que a pesquisa histórica da Escritura é exigida pela própria Escritura." (p 21)

     O princípio orientador para que uma ciência autônoma guie a interpretação bíblica está na utilização desta enquanto "desenvolvimento da pesquisa "meramente histórica" da Escritura." (p 21)

(Texto: Resumo prof Ivan / Teologia Bíblica do Novo Testamento, O Desenvolvimento da Pesquisa e a Problemática)
   


   



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