sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cristianismo e Cultura: The Beatles e Walt Disney


Cristianismo e Cultura: The Beatles e Walt Disney

   Outro dia recebi amigos cristãos em casa e quando viram livro e revistas de música, especificamente acerca dos The Beatles, franziram o rosto e perguntaram se seria certo ouvir músicas não cristãs, e ainda, de grupo cujo líder disse que a religião iria acabar e que eram eles maiores que o próprio Jesus. Interessante!

   O fato é que a cultura, especialmente a musical, do homem é um dom de Deus. Eis uma verdade bíblica compreendida por João Calvino, teólogo mor da Igreja Protestante Reformada - grupo doutrinário a que pertence a Igreja Presbiteriana. Foi a Graça Comum de Deus Pai, ofertada aos homens para existirem à imagem e semelhança de Deus, que propiciou e provê à humanidade o raciocínio e a poesia que observam o mundo e tanto o retratam quanto nele edificam a fim de bem enriquecer os relacionamentos da sociedade humana.

   Neste sentido, The Beatles não devem ser analisados, e condenados, a partir da perspectiva de não serem cristãos; pois a cultura dos homens, mesmo que não cristã, também é potencial divino à humanidade. Exerce-la, portanto, não se faz pecado em si mesma. E muito importa este entendimento da capacidade criativa do homem, pois trata-se da extensão de seu ser individual e social. Portanto, tanto seus atos filosóficos-científicos quanto artísticos não podem ser a priori um motivo de condenação pelo cristianismo; pois o pecado não está em sua existência - talvez em sua mensagem.
   Isto posto, importa agora desenvolver pouco mais o raciocínio. Mesmo, ainda, que a própria mensagem venha a se reconhecer, de alguma maneira, contrária a Deus - não se pode condenar totalitariamente um homem ou cultura por um só ato. Não se deve analisar e julgar ninguém como se não houvesse o momento seguinte ou o amanhã para que este mesmo ser ou movimento viesse, igualmente, propor ou pensar algo digno dos valores de Deus. Tendo os The Beatles como exemplo, vide a famosa música "All you need is love", em que o título já diz tudo e também, a "revolucionária" Revolution, na qual John Lennon canta que os homens não devem se envolver em brigas e guerras mas sim, devem mudar suas mentes primeiro. Ora, vejam só. Enfim, a doutrina cristã da Graça Comum que reconhece o potencial divino à humanidade que gera cultura diversa, requer também sua consequência: o reconhecimento das benesses e do valor decorrentes da cultura humana na vida de todos nós. O princípio valoriza a criação dos homens mesmo quando não sejam estes atos decorrentes da mensagem de redenção do cristianismo.

   Este princípio geral de entendimento acerca da cultura humana de todos nós, aliado ao princípio cristão de não julgar para não ser julgado, deveria nos fazer atentar para os homens e cultura não cristãos de maneira distinta à visão evangélico-legalista comum. Recordo que alguns anos atrás, havia um pastor evangélico e até "apóstolo?", que lançou campanha contra Walt Disney afirmando até que os desenhos traziam mensagens espirituais e místicas malignas. Ignorância. Walt Elias Disney (1901-66), o fundador, tinha princípios protestantes e seus desenhos mais famosos difundiram os princípios cristãos do bem e do mal - apresentando-os bem distintos e contrários entre si. Certamente, os desenhos não apresentam Jesus ou a Graça especial de Deus que irá ressuscitar todo aquele que nEle crer. Mas, são desenhos que podem (e devem) ser apresentados às crianças a fim de que elas reconheçam que o mundo é luz e trevas, e não cinza como pretendem os místicos pluralistas de plantão.

   Especificamente, os cristãos C S Lewis, que escreveu Crônicas de Nárnia, e J R R Tolkien, escritor da série Senhor dos Anéis, compuseram estas obras a fim de que sua geração de crianças e jovens obtivessem os valores cristãos da existência do bem e mal, certo e errado, transcendencia e juízo, coragem e sacrifício. Princípios que estavam se perdendo na Europa à época - e que atualmente se perderam grandemente; embora os filmes estejam aí pra tentar recuperar esta perspectiva cristã básica acerca da existência humana.

   Enfim, sempre que The Beatles ou Walt Disney, em sua capacidade dada via Graça Comum desenvolvem uma cultura de princípios que distinguem bem e mal, amor e maldade; e sempre que autores cristãos em sua sabedoria da Graça Especial pensam livros para o mundo todo no propósito de ensinar valores dignos de Deus - estamos diante de uma cultura dos homens que não requer ser condenada, mas sim, experimentada e analisada, a fim de que se retenha o que é bom - de Deus. Seja o Deus da Graça especial ou ainda o Deus da Graça comum - que é o mesmo e único Deus Pai. Give peace a chance!

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