quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Evangelismo idolatria adentro!


               Aos cristãos, a convocação é simples: se há idolatria, estejam atentos. Pois, se os cristãos ficarem indiferentes e ausentes dos locais idólatras e distantes dos corações que ignoram o Deus verdadeiro; quem será por eles? Quem falará de Deus Pai? Quem anunciará o Alfa e o Ômega, a origem e o (bom) destino aos homens? Quem terá espírito de moderação, poder e equilíbrio, pra bem evangelizar?
               Portanto, neste bom propósito de anunciar a verdade de Deus aos que pouco dEle conhecem, eis o convite do evangelista Lucas (Atos 17), para seguirmos o apóstolo Paulo em visita à Atenas idólatra do século primeiro. O início desta evangélica excursão turística requer busquemos o centro urbano repleto de deuses, para vê-los tanto em locais públicos e comerciais como ainda em santuários diversos, certo? E por que não um bate papo diário entre os supersticiosos e religiosos múltiplos, a fim de aprofundar as novidades, mesmo que sejamos reconhecidos como tagarelas desocupados que muito falam do que pouco entendem? E quanto a desenvolver um relacionamento cotidiano com os que só desejam a felicidade sensual ou junto dos que acreditam na mãe natureza e num deus que se confunde com a criação? Mas isto não é tudo, pois há o desejo também de conhecer, in loco, não louco, os fiscais de ensino das novas religiosidades, e isto lá no centro de debates alternativos idólatras - o areópago, por que não? Finalmente, por que não falar de Deus Pai citando-o a partir de sua existência conjunta no altar dos doze deuses, aproveitando pra direcionar ao Senhor de Israel os louvores a zeus, conforme cantavam os poetas gregos Epimênides e Arato?
                Mas, eis a questão: será que as más conversações não irão corromper os bons costumes? Em meio a deuses e ídolos, blasfêmias e ignorância, misticismo e espiritismos, como pode o bom cristão sobreviver? Afirmar, afinal, que o deus desconhecido do panteão greco-romano... é Deus Pai? Ou, ainda, que pode até sê-lo? É isto possível e até razoável? Que raciocínio é este que permite e provê uma integração da idolatria dos homens à santa sabedoria de Deus - o evangelho real de Jesus?
               Somente um profundo conhecedor da Graça criadora de Deus poderia viver junto a estas idolatrias e ensinar a partir destas múltiplas religiosidades humanas que, sim, somente Deus é Pai e Juiz! A fim de obter bom aprendizado desde princípio cristão que integra humanas culturas religiosas à revelação do Senhor Jesus, precisamos, inicialmente, bem compreender a calvinista doutrina da Graça Comum. Nesta, não há motivos para negar uma origem una entre tudo que Deus criou e tudo que agora deseja redimir, através do senhorio de Cristo entre os homens. Como recorda Knudsen: "(...) para Calvino, diferentemente do que ocorria com outros líderes da Reforma, não existe dicotomia básica entre o Evangelho e o mundo, entre o Evangelho e a cultura...” (K, Robert: o Calvinismo como uma força cultural, ed cultura cristã).
                Ou seja, o mundo dos homens nem se encontra já condenado - pois ainda não estamos no inferno; como, principalmente, não é a cultura humana uma virtude que originou do pecado. Ao contrário, nascemos todos de Deus. Por isso, afirmar que a busca do religioso e as construções humanas de relacionamento místico, tem base original e portanto, compreensão crucial, na Pessoa de Deus Pai - se faz  afirmação básica e consequente à boa compreensão da Graça Comum. Pois a capacidade do homem de empreender artes e conhecimento, ainda que em direções contrárias a Deus, não deixa de ser um dom comunitário divino à humanidade, desde sempre.
                Eis o princípio doutrinário que direciona um evangelismo natural e espontâneo, o qual vemos diversamente na bíblia e observamos didaticamente exposto pelo apóstolo Paulo, ao notar seu raciocínio que desenvolve a verdade de ser toda criação e cultura humana originárias, certamente, de Deus Pai. O apóstolo não enxergava artes religiosas ou filosofias gregas somente como “pontos de contato”, a fim de agir com esperteza humana no propósito de bem aproveitar as oportunidades surgidas. Não mesmo. Paulo sabia e declarava com autoridade que aqueles homens esculpiam e pensavam, desejavam conhecer e também cantavam, porque Deus para isto, um dia os criou – e capacitou, “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, confirmou ele, afinal. 
               Igualmente, enquanto doutrina que reconhece a origem de tudo na Criação de Deus, também observamos a Graça comum orientar o bom propósito de tudo a partir da redenção que há no Senhor Jesus. Assim esclarece Knudsen (p 14) quando expõe o entendimento calvinista:  “ (...) ao mesmo tempo, ele (Calvino) não aceitava simplesmente, sem critica, as realizações do gênio humano. Sua atitude exigia que tais realizações fossem analisadas quanto às razões que as inspiravam, pois deviam estar sujeitas aos preceitos de Cristo.” E nesta busca de propósito que somente a redenção divina promete e provê, partiu Paulo a esclarecer aos estoicos que o Deus de Israel não era mãe natureza, mas sim, o Criador de tudo que existe. Também anunciou, e prontamente, tanto aos estoicos que concebiam um deus criador e ora ocioso, quanto aos epicureus que viam a vida e destino enquanto obra do acaso, que Deus Pai mesmo planejou e agora governa os tempos e lugares da existência de toda humanidade, a fim de que, em tempo oportuno, sejam por Jesus encontrados, “bem que não está longe de cada um de nós”. E conforme a pastoral tradução bíblica de Eugene Peterson: “o desconhecido é agora conhecido e está pedindo uma mudança radical de vida. Ele estabeleceu um dia em que toda a raça humana será julgada, e tudo será acertado. Também já indicou o juiz, confirmando-o diante de todos quando o ressuscitou dos mortos.” (Atos 17.31)
                Portanto, ao observar no evangelismo ministrado por Paulo e aprender da doutrina calvinista Graça comum princípios salvíficos da relação entre mundo criado e mundo redimido, reconhecemos em consequência, que: todos os homens criados por Deus e suas culturas pelo Senhor disponibilizadas jamais serão redimidos de seus fúteis caminhos, enquanto os religiosos de Israel tão somente condenarem seus enganos e degenerações. A salvação invés de condenação exige postura distinta ao anúncio objetivo e ríspido/rápido de que os homens são blasfemos e idólatras, somente.
               É preciso reconhecer que culturas e corações, atos e valores, mesmo que desgarrados de Deus, também d´Ele surgiram enquanto possibilidade e potencia. Esta verdade acerca de toda vida que há na terra é fundamento, tanto de absoluta humildade a todos os homens, quanto de um evangelismo eficaz, posto que redimir é retornar à origem e essência - portanto, à presença e vontade de Deus Senhor. Foi este o evangelismo de Deus Pai enviando Jesus ao planeta dos homens e igualmente o evangelismo do apóstolo Paulo visitando Atenas da Grécia. E isto João Calvino percebeu, tanto que a complexa, mas consequente doutrina da Graça Comum, ele concebeu. Daí a convocação: Evangelismo é idolatria adentro!

               

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